como você exercita sua criatividade? #6
uma reflexão sobre estímulos, inteligências artificiais e autenticidade.
Quando estruturei a newsletter aqui, a pergunta “o que eu tenho para entregar?” ficou martelando na minha cabeça por muitos dias. Em paralelo a ela, tinha aquela voz sabotadora que ficava fazendo vários questionamentos no meu ouvido. Tipo a bonequinha da Lizzie McGuire, que incomoda a personagem da Hilary Duff em “Um sonho popstar”, sabe?
Já ouvi relatos de que essa voz aparece para várias pessoas, em diferentes contextos. E é um desafio fazer as coisas com ela. Quando criei o “m(eu) universo em expansão”, eu me propus a insistir, apesar dela.
Acredito que a gente sempre pode melhorar. Mas, tenho tentado melhorar no processo, e não esperando. Tem coisa que a gente só aprende fazer, fazendo. Exercitar a nossa criatividade é uma delas.
A pergunta “o que você vai ser quando crescer?”, que geralmente é feita para crianças, até pode instigá-las. Mas, em muitos casos, ela as limita também. Como se a gente tivesse que escolher uma coisa e seguir aquilo por toda a vida. O que (quase) ninguém fala é que você já é. Desde o momento que você nasce, você já se torna muitas versões. E você vai se tornando e abraçando outras ao crescer, mas nenhuma delas deveria ser uma limitação. Só que às vezes a gente esquece disso.
Buscamos pertencer - e se sentir pertencente é ótimo -, mas, a linha é muito tênue entre se encaixar e se limitar. E como não se perder? Às vezes, as respostas que buscamos estão justamente com a criança que deixamos para trás, acreditando que para “nos tornarmos adultos”, precisamos romper com ela. Confesso que, em alguns momentos, eu tentei. Até perceber que, sem ela, eu me perco. Afinal, ela é uma parte muito importante de mim. Então, melhor abraçá-la e caminharmos juntas mesmo.
Algo que fazemos bastante quando somos crianças é experimentar. E aí a gente cresce e essa experimentação vai sendo substituída pela performance e pelas comparações. Invés de experimentarmos porque queremos, acabamos performando porque é o que acreditamos que os outros esperam de nós. Aqui, outra confissão: também já me comparei e tentei performar, em vários contextos. Até perceber, de novo, que fazendo isso, me perco.
Decidi, então, tentar ser a versão mais autêntica de mim mesma. Aceitar minhas vulnerabilidades, minhas imperfeições e, enfim, abraçar a vida real. E a vida real não é filtro de Instagram (ainda bem!). A vida real é cólica e espinha naquele dia que você tem um compromisso. A vida real é louça na pia para lavar. A vida real é aquela cadeira que você vai jogando as roupas e um dia vai ter que organizar tudo. A vida real é trânsito quando você já saiu atrasada. A vida real é aquele pingo gelado que incomoda no meio da água quente do chuveiro no inverno.
Mas, a vida real também são abraços apertados em quem a gente ama. É um banho quentinho naquele dia frio. É cheirinho de roupa limpa com o seu amaciante preferido. É quando você entra em um lugar e está tocando sua música favorita. É receber flores num dia especial. É bolo de vó no café da tarde.
A vida real é um dia que parece que tudo dá errado, e no final tem um pôr-do-sol ou um arco-íris lindo te dizendo que pode existir beleza no caos. Como canta Alanis em Ironic, “a vida tem uma maneira engraçada de aprontar com você quando você acha que está tudo bem e tudo está dando certo / E a vida tem um jeito engraçado de te ajudar quando você acha que tudo está dando errado”.
E a vida real é muito mais interessante do que qualquer inteligência artificial. Sei que a internet está com diversos debates sobre as inteligências artificiais ultimamente. Toda vez que uma nova tecnologia surge, ela traz o debate se vai substituir mão de obra humana, qual seu impacto e como aprender a lidar com ela. Foi assim com o rádio, com a televisão, com os computadores, smartphones, e agora está sendo assim também. Independentemente dos debates, a certeza: inteligências artificiais chegaram para ficar, fazem parte do nosso dia a dia e tem seus prós e contras (como tudo na vida).
Entretanto, tem algo que a inteligência artificial nem chega perto de substituir: a criatividade de uma pessoa. Ela até pode ajudar com ideias, mas acredito que não tem e não terá nada que ela possa fazer que substitua a satisfação e o sentimento de que algo foi construído por você. Pelo menos comigo é assim: toda vez que um texto meu nasce e eu vejo que consegui fazer minhas próprias conexões com base no meu repertório e nas minhas vivências, eu sinto um alívio e um êxtase, ao mesmo tempo. Tipo quando você consegue passar aquela fase bem difícil e “vencer o chefão” no Super Mario. Às vezes não tem ninguém assistindo, mas você sabe que você conseguiu. Você sabe que você criou algo único, assim como você é. Inteligência artificial nenhuma substitui você, por mais que tente.
Julia Cameron, em “O caminho do artista”, fala que “nós mesmos somos criações. E fomos feitos para continuar a criação sendo nós mesmos criativos”. Somos todos seres criativos em potencial, desde que isso seja estimulado. Acredito que a criatividade também caminha ao lado da experimentação. E está permitido se permitir experimentar na vida adulta também. Seja escrever, fazer colagens, receitas, decorações, pintar bobbie goods, ou o que quer que seja exercitar a criatividade para você.
Que tal experimentar exercitar a sua criatividade hoje?
⋆˖⁺‧₊ Para ajudar a expandir…
🪐☾⁺₊ A série documental "Por Dentro da Pixar", disponível na Disney+, mostra bastidores e processos criativos da Pixar, que é um dos estúdios de animações mais influentes (e incríveis) do mundo. A série traz entrevistas com diretores, roteiristas, animadores, designers de personagens, enfim, vale muito a pena conferir, principalmente se você é fã de animações como eu.
🪐☾⁺₊ A série documental “Abstract - The art of design”, disponível na Netflix, apresenta designers renomados em diversas áreas que mostram seus processos criativos, inspirações e desafios. É muito interessante perceber como esses trabalhos influenciam em diferentes aspectos da nossa vida. Tem designer de arquitetura, de cenografia e até de uma marca de tênis beeem famosa. Vale a pena conferir!
🪐☾⁺₊ O documentário “The social dilemma”, também disponível na Netflix, aborda temas relacionados às tecnologias e redes sociais. Enquanto as indicações acima focam mais em processos criativos e inspirações, essa é uma indicação mais provocativa e crítica que traz bastidores de grandes empresas e faz refletir sobre como estamos usando (ou sendo usados) por algumas ferramentas. É um alerta necessário sobre os efeitos da hiperconectividade e uma provocação sobre como preservar nossa atenção, autonomia e criatividade em meio ao excesso de estímulos digitais.
Termino essa edição com um aviso sobre a próxima: será para assinantes pagos e vai trazer uma curadoria sobre o assunto criatividade. Literalmente abri meus cadernos e revisitei várias anotações que fiz ao longo de muitos anos, e vou compartilhar aqui. Vai ter bastidores do meu processo criativo e algumas novidades também. Se você tiver interesse em fazer um upgrade, clique no botão no final da newsletter.
Aproveito para fazer a divulgação do primeiro brinde especial para a primeira pessoa que fez uma assinatura paga na newsletter também: minha amiga Julia. Ju, um agradecimento para você aqui, tenho um livro bem especial separado para levar para você quando te ver em Ijuí! <3
Obrigada, de coração, a todas as pessoas que estão me apoiando, em diversos sentidos, a continuar escrevendo.
Em um mundo de conteúdos rápidos, é muito especial saber que alguém reservou um tempo para expandir comigo e ler algo mais longo e intencional. Se quiser acompanhar a newsletter, inscreva-se. E caso queira trocar uma ideia, é só me chamar. Você me encontra nas redes como @kauanamine. ⋆₊ ⊹☆ Um abraço virtual e até as próximas edições (づ ̄ ³ ̄)づ